Ou todo o belo simbolismo que trazem as cores e formas da bandeira nacional precisava de um aviso ético à sociedade? No dia do impedimento do Collor, em vez de se tocar o hino nacional ouviu-se o Hino da Bandeira. Por que não o Hino Nacional? Metáforas à parte, a idéia da bandeira, de 1889, foi de Raimundo Teixeira Mendes e o design do pintor Décio Vilares.
Essa concepção de colocar textos passou para diversos estados da federação que adotaram frases nas suas bandeiras. À luz da publicidade de hoje, o texto junto à imagem, tem a função de direcionar um pouco a imaginação das pessoas e orientando o sentido que ela pretende transmitir.
Que a mídia vem migrando cada vez mais para uma comunicação não-verbal, priorizando o uso de imagens em substituição às palavras, nós já sabemos. Godard já disse que a imagem e o texto não podem viver separados; um seria a mesa e o outro a cadeira. Uma das explicações para essa tendência de imagens sem textos é a ausência de tempo para a leitura dos mesmos.
A nossa publicidade, que está baseada em muitos fundamentos da americana, exige que a compreensão da mensagem se faça na primeira vez que o telespectador assiste ao comercial. O entendimento deve começar nos primeiros segundos, sob o risco do telespectador não
manter a atenção no roteiro.
Esse imediatismo, menos marcante na cultura européia, está possibilitando que os comerciais ingleses sejam entendidos, por exemplo, somente na terceira vez. Essa licença criativa, tem permitido uma construção de imagens menos explícitas, com alguma reflexão do telespectador para o seu entendimento. Nesses casos o texto, o sentido das imagens, estaria inserido dentro delas próprias.
A substituição de parte dos textos está sendo possível, em muitos casos, porque a imagem já traz explicitamente o seu sentido, ao contrário da arte, que necessita da interpretação. Os críticos de arte e a minoria artística desempenham o papel de tradutores do sentido das obras de arte para as pessoas, pois nem sempre captam o conceito das obras somente com o seu olhar próprio.
Esse fenômeno é claro nas nossas agências de publicidade, onde a quantidade de diretores de arte e designers é cada vez maior que o número de redatores, proporção que já foi inversa em tempos passados. Queria ter conversado com o artista Décio Vilares para entender as razões da colocação de um texto fortemente imperativo e tantas vezes violado ao brilho da nossa bandeira. Como agora.
autor: Lucio Pacheco
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