Os serviços de networking online — empresas de Internet que se oferecem como elo entre os seis graus que separam a amiga de uma amiga com quem talvez nos casemos, ou o colega de um colega que talvez nos contrate — são o negócio eletrônico mais quente do momento.Friendster, Orkut, Tribe, Ryze and LinkedIn — além de cerca de dezenas de outras comunidades recém-criadas — recrutam furiosamente membros que, por sua vez, recrutam amigos, parentes, colegas de trabalho e praticamente qualquer um que gostaria de ser apresentado a alguém realmente influente, ou pelo menos conseguir dessa pessoa uma referência. Há redes cuja clientela chega a 100.000 pessoas, enquanto outras dizem ter entre 500.000 e 1 milhão de membros.
Esse tipo de serviço não se limita apenas a atrair novos usuários. As redes sociais ganham muito dinheiro com investimentos feitos por capitalistas de risco de São Francisco a Boston. A Sequoia Capital investiu US$ 4,7 milhões na LinkedIn. A Kleiner, Perkins, Caufield & Byers investiu US$ 13 milhões na Friendster. A Myfield e as gigantes da mídia Knight-Ridder e o Washington Post investiram US$ 6,3 milhões na Tribe.net.
Para alguns especialistas em negócios, a explosão das redes com finalidade social lembra muito o fenômeno de ascensão e queda das pontocom: uma idéia interessante surge no horizonte, empresas com modelos vagos de negócios se formam para explorá-la, os capitalistas de risco farejam lucro nelas, embora não tenham por enquanto receita alguma. “Criamos novamente essa pequena bolha inflando-a com preços altos e grandes expectativas”, disse ao Boston Globe no ano passado Andrew L. Anker, sócio da August Capital.
Seja como for, os serviços de networking online que quiserem se tornar negócios eletrônicos de sucesso não devem ser comparadas a empresas como a Pets.com, representante por excelência do estouro da bolha de Internet, segundo alguns observadores. Muitas das pontocom que faliram devem seu fracasso ao fato de que mantinham estoques elevados de bens reais que armazenavam em instalações físicas palpáveis no mundo não-virtual. O único estoque que os serviços de rede mantêm consiste em uma longa lista de nomes. Não há estoque de produto algum
Além disso, nos idos da década de 90, quando a maior parte das pessoas não estava familiarizada com a Internet, as pontocom se viam obrigadas a gastar uma parte substancial do capital obtido com publicidade. Os serviços de networking online não precisam gastar um centavo sequer com propaganda porque, por sua própria natureza, um assinante atrai o outro. “Os investidores sentem-se atraídos sobretudo pelo crescimento extraordinariamente contagioso desta redes”, observa Ross Mayfield, fundador e CEO da SocialText, uma fabricante de software utilizado nos serviços de networking online.
Konstantin Guericke, também fundador da LinkedIn, é vice-presidente de marketing, embora a empresa não tenha “orçamento e nenhum funcionário. Contudo, dos nossos 500.000 usuários, sabemos que 95% deles atenderam ao convite de outros usuários”.
Praticamente todos os serviços de networking online que hoje existem acham-se em estágio inicial, o que significa que estão, em grande parte, mais preocupadas com a construção das redes e com a adesão de mais participantes do que com os lucros. Algumas, senão a maioria, ainda estão às voltas com a necessidade de tomar decisões difíceis e imediatas que lhes permitam obter mais capital. Contudo, ao menos uma rede, a Ryze, anunciou publicamente que teve lucro, embora não faça menção de valores.
Convite para jantar
De acordo com Peter Fader, professor de marketing da Wharton, os serviços de rede têm grande chance de se sair bem onde uma enorme variedade de empresas pontocom falharam por razões as mais óbvias possíveis. Em primeiro lugar, a Internet é hoje parte da vida diária de quase todas as pessoas e, em alguns casos, até mesmo da vida social delas. Uma segunda razão diz respeito ao fato de que em uma era em que a Internet tornou-se também ferramenta de comunicação, os serviços de rede têm efetivamente algo de palpável a oferecer — a possibilidade de nos colocar em contato com aquelas pessoas que talvez sejam efetivamente importantes para nós. Na verdade, diz Fader, ele mesmo experimentou o valor dos serviços de rede como membro que é do LinkedIn, um dos serviços de networking online mais requisitados do momento.
Quando uma aluna lhe pediu recentemente uma referência sobre uma pessoa de cujo nome não se lembrava, Fader recorreu ao LinkedIn. Poucos segundos depois ele havia localizado a pessoa em questão, lembrou-se de quem se tratava, fez a recomendação que lhe haviam pedido e marcou um jantar para conversarem. “Esse tipo de coisa acontece diariamente”, diz Fader. “Estas novas plataformas vêm sendo usadas para suprir as necessidades genuínas dos usuários.”
As plataformas — e mais especificamente, os modelos de negócios que as impulsionam — variam substancialmente. Alguns os serviços de networking online já pensam em veicular publicidade, em cobrar taxa de assinatura ou uma combinação das duas coisas que permitam, futuramente, a geração de receita. Outros, talvez preocupados com a possibilidade de que a cobrança de taxas de assinatura possa afastar os usuários, já pensam em permitir o acesso em todos os níveis, mas será cobrada uma taxa do participante se ele quiser entrar em contato com alguém que esteja, por exemplo, a três graus ou mais de distância. Há quem espere ganhar dinheiro com serviços de suporte, como a organização de teleconferências ou trade shows para membros da rede com interesses comerciais comuns. O serviço online Ryze conta hoje com receitas oriundas da organização de eventos de rede no mundo não-virtual.
O LinkedIn, observa Guericke, pensa em cobrar pelas transações de importância fundamental. Cerca de 10% das pessoas que participam do LinkedIn querem entrar em contato com antigos colegas; 10% buscam um profissional da indústria disposto a fazer uma palestra; 30% querem encontrar um parceiro comercial e cerca de 50% querem contratar alguém. “Não deve ser difícil fixar preços para pesquisas relativas a parcerias comerciais e contratação de possíveis profissionais”, assinala Guericke, “uma vez que as pessoas já gastam dinheiro com isso, portanto não estamos pedindo a elas que façam um gasto novo”.
Todavia, o mais interessante dos serviços de networking online não é o fato de que não solicitarão de seus clientes que façam uma despesa nova, observa David Flaschen, sócio-gerente da Flagship Ventures. Na verdade, seu apelo está no fato de que poderiam baixar significativamente o custo da busca por um executivo de talento ao eliminar agências de recrutamento que cobram milhares de dólares por este serviço — expandindo ao mesmo tempo o leque de profissionais para possível contratação. “A Monster.com pode ajudá-lo a encontrar essas pessoas em busca de emprego, ou pessoas desempregadas. As redes sociais, porém, podem ajudá-lo a localizar pessoas que não estão procurando emprego, mas que combinam perfeitamente com aquilo que você procura. As redes nos permitem transcender as conexões óbvias.”
Embora modelos de negócios tais como os baseados em assinaturas ou publicidade sejam viáveis, algumas estratégias mais criativas deverão ser postas em prática, observa David Croson, professor de gerência operacional e administrativa da Wharton e atual professor visitante de ciência da administração no MIT. Os serviços de networking online, argumenta o professor, poderiam fechar um acordo pelo qual uma determinada companhia de telefonia celular, mediante o pagamento de uma taxa, teria acesso a alguns dos membros da rede. Os assinantes da rede, por sua vez, teriam direito a taxas de telefonia preferenciais.
Ao divulgar sua política de privacidade, os serviços de networking online comprometeram-se a proteger a privacidade de seus assinantes. Apesar disso, especialistas em tecnologia como Esther Dyson alertam para possíveis invasões estimuladas pela adesão a redes. “Existe um perigo real de que todo o campo e seu potencial de suporte às inter-relações humanas possam ficar irremediavelmente prejudicados pelas políticas de privacidade — quer como resultado de políticas que deixam as pessoas incomodadas pela exposição a um grande volume de dados, quer por falhas de segurança decorrentes de algum tipo de transbordamento no nível das informações”, observou Dyson em artigo no New York Times no outono passado. “Por enquanto, nenhum serviço de networking online tem peso significativo. Tais questões, porém, surgirão inevitavelmente no momento em que os serviços se aproximarem de sua massa crítica.”
3.500 esquiadores
Para Croson, um merchandising muito bem dirigido pode também gerar lucros. Em um serviço de networking online, por exemplo, poderá haver um subgrupo de entusiastas de esqui nos Alpes. Um fabricante de equipamentos para esqui poderia “atingir de maneira eficaz, completa e direta estes esquiadores com informações detalhadas sobre seu produto”, ressalta Croson.
Observadores como Ross Mayfield, da Socialtext, acreditam que serviços de networking online deverão prosperar porque acham-se prontos para engolir sites de namoro e de busca de emprego, onde inúmeras pessoas já gastam milhões de dólares em busca de parceiros, amigos e um emprego melhor. Estes sites, assinala Mayfield, colocam as pessoas em contato com possíveis parceiros para um relacionamento afetivo, ou localizam empregos valendo-se de algoritmos arbitrários que determinam quem deve namorar quem e qual profissional encaixa-se melhor no perfil de um determinado empregador. Os serviços de networking online, porém, disponibilizam uma abordagem consagrada para as questões relativas ao amor e ao trabalho, onde um grupo de pessoas empenhadas em assegurar ao usuário que a pessoa localizada pela rede seja compatível com ele, que vale a pena levá-la para jantar ou colocá-la na folha de pagamento de sua empresa. Ainda segundo Mayfield, “se eu for a um encontro e fizer algo que não devia ter feito, esta informação ficará registrada na rede, portanto qualquer atitude da minha parte poderá pôr em risco meu capital social”. Essa regra informal, porém eficaz, gera um tipo de confiança que a Match.com ou a Monster.com são incapazes de reproduzir.
Os serviços de networking online têm grande potencial de lucro, e aguardam apenas quem se disponha a explorá-los — seja para a comercialização de serviços plenamente desenvolvidos ou de softwares para criação de redes — em certos nichos especializados e de grande potencial lucrativo. Tanto Fader quanto Croson ressaltam que serviços de networking online podem ser imensamente úteis, por exemplo, para as universidades, isso para não mencionar instituições especializadas, tais como escolas de negócio que, de acordo com Croson, “não foram capazes de localizar ex-alunos e de pô-los em contato. A utilização de um software de networking online pode conferir uma dinâmica extraordinária a um grupo específico”. Os serviços de networking online, acrescenta Fader, poderiam ajudar a pôr diferentes grupos em contato, tais como os grupos de docentes, os do setor de admissão e os de gerenciamento de carreira. Entre outras vantagens, colocar prováveis alunos em potencial em contato com esse componente poderoso de rede poderia ajudar a atrair para o seu campus os melhores candidatos aos cursos de MBA.
Grandes empresas com escritórios e equipes de vendas em localidades distantes são também um mercado de imenso potencial lucrativo para os serviços de networking online. Nas empresas de modo geral, com centenas de vendedores, as informações sobre contatos e relacionamentos ficam escondidas em centenas de fichas individuais de arquivo ou em um software de gerenciamento de informações pessoais. Há também um volume muito grande de informações confinadas em listas de contato dos gerentes, executivos e membros do conselho de administração.
A utilização de um software de rede social que unisse todas estas pessoas a seus respectivos contatos em uma rede corporativa produziria resultados fabulosos, observa Stowe Boyd, especialista em tecnologia da informação. Um vendedor que estivesse disputando um grande contrato com uma empresa de Washington, D.C., poderia acessar a rede e descobrir que alguém em Ohio tem uma ligação qualquer com ela. “No mínimo, esse vendedor poderia entrar em contato com aquele indivíduo de Ohio e descobrir qual seria a melhor maneira de se dirigir àquela empresa ou de ser apresentado a ela”. Este tipo de serviço prestado pela rede “pode se transformar em dinheiro de verdade”, assinala Boyd.
Os serviços sociais corporativos podem modificar até mesmo as decisões de contratação e de demissão, acrescenta Boyd. “Se, por exemplo, você decide demitir o funcionário Joe Jones, sua decisão pode não parecer muito significativa. Mas se você analisar a questão do ponto de vista dos serviços de networking online, verá que ser trata de um sujeito muito bem relacionado, de enorme influência, responsável pelo fechamento de 25 contratos.”
Para Boyd, os serviços de networking online corporativos constituem um “aplicativo genial”, com o que parecem concordar os capitalistas de risco. Além dos contratos mencionados anteriormente, a Visible Path, fornecedora de software de serviços para redes sociais, recebeu US$ 3,7 milhões da Kleiner, Perkins, Caufield & Byers. A Spoke Software, outra novata neste mercado, conseguiu US$ 20 milhões em capital de risco com a US Venture Partners, Sierra Ventures, Partech International e DCM — Doll Capital Management —, entre outros investidores.
Subvertendo o sistema
Apesar de todo o entusiasmo com os serviços de networking online e das negativas de que desta vez será diferente, o sucesso de tais empreendimentos está longe de ser garantido. Anker, da August Capital, vê com ceticismo, por exemplo, as redes sociais voltadas para empresas. O impacto da coleta e da análise das redes no âmbito das empresas, ressalta Anker, pode não produzir resultado algum durante 18 ou 24 meses, o que pode complicar muito a aceitação do sistema pelos CEOs sempre acossado por acionistas. Dan Keldsen, analista sênior da Delphi, identifica uma razão mais profunda para que os serviços corporativos da rede naufraguem: “Vendedores não costumam partilhar dicas ou contatos. Eles descobrirão uma maneira de subverter o sistema”, afirma.
Os serviços de networking online de maior porte podem vir a constatar que é grande a procura pelos serviços oferecidos; que grande parte dos interessados em participar destes serviços não estão dispostos a pagar tarifa alguma por isso; e que, com a perda gradual de interesse pela novidade, os membros a abandonarão, sobretudo se ficar evidente que as redes oferecem menos do que prometeram.
Conseqüentemente, algumas redes desaparecerão. Há quem aposte que outras serão tragadas por peixes maus graúdos, interessados em usá-las como provedoras de benefícios secundários para uma clientela já existente. O Zero Degrees, um serviço de networking online com sede em Los Angeles, já foi engolido pela Interactive, de Barry Diller. Por outro lado, especialistas esperam também que os negócios baseados na Web incorporem os serviços de networking online aos seus, pressionando mais ainda desta forma as empresas iniciantes. A Monster.com — cujo negócio deverá ser engolido pelos serviços de networking online especializados na procura de emprego — passou a incorporar recentemente o serviço de rede em seu site com a informação aos assinantes de que ela pode ajudá-los a “se apresentar à pessoa certa”.
No fim das contas, acredita-se que apenas alguns serviços de networking continuarão ativos depois de transcorridos de 18 a 24 meses. “Não há espaço para mais de um serviço de networking online de grande porte, uma rede de negócios dominante e outra voltada para interesses especiais”, diz Croson.
fonte: universiaKnowledgeWharton