“No momento em que o governo prevê a potencialidade de 500 mil novas vagas nas empresas nacionais para os próximos anos, constatamos a carência de profissionais devidamente qualificados para ocupar esses postos. É evidente, portanto, que isso exige uma mudança estrutural e cultural das instituições de ensino. ”
Auresnede Pires Stephan
Educar, em qualquer área do conhecimento, é um desafio para todas as instituições educacionais, sejam elas estatais ou particulares, assim como para os órgãos governamentais, tanto de países do Primeiro Mundo como do Terceiro.
Como podemos observar, existem países lastreados em seu passado pela pesquisa e alicerçados em uma estrutura educacional estabelecida por diretrizes sólidas e objetivas, o que, em nosso caso, não é a regra, e sim a exceção, em decorrência de fatores históricos e culturais, que hoje constatamos claramente, pois, somado aos erros do passado, convivemos em um mundo em constante mutação.
No momento em que o governo prevê a potencialidade de 500 mil novas vagas nas empresas nacionais para os próximos anos, constatamos a carência de profissionais devidamente qualificados para ocupar esses postos. É evidente, portanto, que isso exige uma mudança estrutural e cultural das instituições de ensino.
No âmbito do design, o Brasil hoje contabiliza aproximadamente 85 cursos de bacharelado em design de produto. Quando se incluem os cursos de bacharelado, tecnológicos, seqüenciais nas áreas de design gráfico, digital, de moda, de interiores, de games, entre outros, totaliza-se o número de 350.
Além desses dados estatísticos, que assumiu tais proporções nos últimos cinco anos, verificamos nas avaliações oficiais e na produção acadêmica, que observamos por meio de concursos e mostras didáticas, um contexto tímido e melancólico em uma área que se pressupõe criativa e prospectiva. Não devemos, no entanto, deixar de levar em conta a existência de instituições de excelência e de professores de alto nível de formação tanto no âmbito acadêmico como no profissional. Fora essas ilhas de qualidade, a grande maioria apresenta infra-estrutura defasada, corpo docente e propostas curriculares que não atendem às exigências do mercado e da indústria.
Nos departamentos, estúdios, escritórios, associações de classe e órgãos de fomento, o questionamento sobre o baixo nível dos recém-formados é geral.
Infelizmente, em razão da falta de uma avaliação dos órgãos governamentais, da escassez de profissionais especializados no setor para compor as comissões técnicas do Ministério da Educação, da estrutura burocrática, que sobrecarrega coordenadores e diretores, e do corporativismo tanto da classe docente como de diversos sindicatos patronais, o processo é longo e moroso.
Diante disso, precisamos refletir e estabelecer parâmetros na elaboração de estratégias e, como designers, definir uma metodologia de trabalho, tendo em vista a exigência de pré-requisitos dos mais diversos campos do conhecimento, para implantar uma sistemática que atenda às necessidades do mercado, somada à autonomia de pesquisa das academias.
De maneira ambiciosa, acreditamos que seria urgente a formação do conceito de design já nos ensinos fundamental e médio (o que já ocorre em países como Inglaterra) a fim de formar o cidadão no âmbito da percepção visual, em sua educação de cidadão consumidor e na reflexão em relação ao meio ambiente. Assim, a aprendizagem no campo do design estaria vinculada a várias disciplinas, entre elas educação artística, geografia, história e biologia. Essa formação básica levaria o futuro candidato ao ensino superior na área de design ou outras áreas do conhecimento a assumir uma consciência do mundo material que o rodeia.
Estabelecendo, agora, os parâmetros para um curso superior, consideramos que o candidato à área de design deveria desenvolver a representação gráfica, ou seja, o desenho, durante todo o curso, pois essa é a ferramenta fundamental para sua atividade, o componente básico para expressar suas idéias e concepções. Importante ressaltar que, quando estamos enfocando a palavra “desenho”, estamos considerando o desenho à mão livre, o desenho geométrico, a geometria descritiva, o desenho técnico e todas as formas de representação gráfica necessárias para o profissional atuar.
Se, de um lado, o desenho é a ferramenta que traduz com clareza suas idéias e conceitos, de outro, não podemos esquecer que o designer precisa ter uma formação abrangente, nas áreas de antropologia, história, sociologia, semiótica, ergonomia, entre outras, uma vez que, ao desenvolver um projeto, inevitavelmente seu objetivo é o de atender às necessidades do homem.
No entanto, sua formação não se encerra por aqui, pois, diante do avanço da ciência, das tecnologias, dos processos de produção e dos sistemas digitais, da adequação dos novos materiais e dos limites hoje impostos pela sustentabilidade e pelos princípios da ecologia, esse profissional tem de administrar todos esses fatores, o que exige a gestão de design, visto que não apenas projetamos, mas necessariamente precisamos estabelecer todo um processo de sinergia entre as mais diferentes áreas do conhecimento e seus limites.
Perante todos esses desafios, acreditamos que cabe às empresas, instituições de fomento e órgãos de estatais incentivar a constante atualização, por meio de seminários, estágios programados, concursos e treinamentos intensivos, aos jovens acadêmicos, aos recém-formados e aos profissionais atuantes.
É preciso desenvolver parcerias de empresas e instituições nacionais e internacionais com os cursos de design, para incentivar a iniciação à pesquisa e a pesquisa aplicada, assim como promover a implantação de cursos de pós-graduação voltados para as necessidades reais do país.
Por fim, existe a necessidade do compromisso do futuro profissional de manter-se atualizado, pois nos dias de hoje a colação de grau e vários diplomas não são suficientes para atuar na área de design. Ela exige paixão, emoção, criatividade, estar atento aos planos políticos governamentais e das empresas, aos avanços da ciência e, somado a isso, a capacidade de inovar.
autor: Luis Eduardo
fonte: Dzaine
Uma resposta
Me prove que um designer precisa saber desenhar obrigatóriamente…
De onde você tirou isso?
Pra você designer = desenhista?
bah…