Para quem faz publicidade há pelo menos 20 anos, muita coisa mudou. Na opinião de alguns, as mudanças foram benéficas. Outros classificam o passado como uma melhor época para se trabalhar com propaganda. A despeito de um consenso sobre a questão, o Adnews resolveu ouvir alguns profissionais da área sobre práticas que fazem falta na publicidade contemporânea.
Mesmo que a comunicação viva um de seus melhores momentos em toda História, ainda há práticas na propaganda do século passado que, para o bem ou para o mal, estão cada vez mais raras na prática da profissão nos dias de hoje.
Confira algumas delas:
Politicamente incorreto
Esta é uma das questões mais polêmicas. A propaganda atual é mais comportada. Mas até que ponto isso é bom? “Os dias atuais do politicamente correto (ou politicamente chato, como dizemos em qualquer roda de conversa) são muito chatos”, diz o publicitário Marcos Giovanella, diretor de internet e mídias sociais da Prefeitura Municipal de Curitiba.
“Eu cresci nos anos 80. Naquela época, a gente tinha filmes, músicas e propagandas que seriam inimagináveis hoje. Curtimos coisas como Loucademia de Polícia, Apertem os Cintos que o Piloto Sumiu, Mamonas Assassinas, Raimundos, É o Tchan… e por aí vai”, analisa.
Hoje, diz Giovanella, muita coisa é classificada como “buylling” e “preconceito” com certo exagero. “Você já imaginou se Os Trapalhões vivessem nos dias atuais? Será que alguma marca poderia fazer um merchan com esses caras? Será que a TV conseguiria vender comercialmente aquele tipo de programa?”, questiona.
“Buscamos tanto um mundo livre, mas hoje ganhamos uma redoma invisível, que deixa quase tudo desinteressante”, conclui.
Veja o comercial abaixo e responda: iria ao ar nos dias de hoje?
Atemporalidade
Na mesma linha de Giovanella, Patricia Weiss, consultora estratégica de Branded Content e Entertainment, afirma que sente falta da liberdade criativa, da criatividade atemporal. “Sem obsessiva orientação às mídias e plataformas, sem o politicamente correto chato e careta de hoje em dia”, explica.
“Sinto falta da propaganda clássica, da criatividade poderosamente atemporal como ‘O primeiro sutiã a gente nunca esquece’, um dos presentes do Washington Olivetto, dirigido com o olhar poético de Julinho Xavier, em 1987”, diz.
Bom humor
Outra saudade de Patricia é a propaganda bem humorada dos anos 70. “Como as campanhas de cigarro com o Gérson, campeão do mundo, que personificou e eternizou o malandro brasileiro na campanha do cigarro Villa Rica. ‘Leve vantagem você também, leve Villa Rica’. A campanha que jamais aconteceria hoje, por exemplo, para o cigarro Chanceller: ‘O fino que satisfaz’. E a campanha de Duloren ‘El Matador’, com o Paulo Cesar Pereio como anti-herói , lançando uma coleção em 77. Ele era ‘perseguido’ por mulheres lindas de biquini… E veja só, como nessa época marcas de cigarro e lingerie eram bastante ousadas e inovadoras”, provoca.
Ninguém trabalhava de headphones
Carlos Castelo, redator da FCB Brasil, também elencou algumas mudanças que ele sente falta. Uma delas é o uso de fones nas agências.
“O fato das pessoas ouvirem o tempo todo fone nas agências impede que o ambiente tenha a festividade que tinha no passado. Quebra bastante esse diálogo divertido que havia e que colaborava pra melhorar o clima em geral”, analisa.
Se você discorda de Castelo, saiba que John Hegarty concorda.
Cigarros
Para Wagner Martins, sócio da agência 301.yt, a ausência da publicidade para cigarros enterrou ideias para sempre. “Sinto falta dos anúncios de cigarro que faziam coisas mais alucinantes do que Red Bull faz hoje”, explica.
“Imagino que a Philip Morris já teria filmado algo em Marte se ainda pudesse anunciar. Felizmente para quem tem tendência a ser persuadido a se tornar mais um dependente, não pode mais”, conclui.
Muitas agências possuíam bares melhores que os da Vila Madalena
Bar e publicitários: duas coisas que se misturam há anos. Mas será que até a qualidade dos happys caiu? Na opinião de Castelo, sim.
“Me lembro de um bar incrível inventado, se não me engano, pelo redator Sílvio Lima, da DPZ. Era uma bar-maleta-de-couro. Ele era colocado no elevador da agência após as 18 horas. Você chamava o elevador e lá estava ele. Dentro da mala havia whisky, vodca, limão, gim, gelo etc. Prático e acessível”, explica.
Os textos dos anúncios tinham mais de uma linha
Para Carlos Castelo, que é redator, os anúncios de antes tratavam os textos na propaganda de um modo mais respeitoso.
“Hoje, como ontem e sempre, a base de toda a comunicação é a palavra. Mesmo que a peça seja apenas uma imagem, ela precisará em algum momento ser descrita. E aí entram elas, as palavras. Tratá-las com reverência nunca deixará de ser moda”, analisa.
Intuição
Segundo Moacyr Netto, diretor de criação da Ogilvy & Mather, os processos contemporâneos são racionalizados e quantificados. “Sobra pouco espaço para o feeling, aquela decisão de apostar em ideias que talvez o consumidor não consiga racionalizar com clareza sobre elas, mas que sejam essencialmente transformadoras e poderosas”, reflete.
autor: Leonardo Araujo
fonte: Adnews
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Adorei.