Eu sou designer, e estou orgulhoso, mas gostaria de expor outro lado da profissão que muitas vezes não nos é apresentado.
Victor Papanek, já na década de 70, afirmava no prefácio do seu livro “Design For The Real World” que o homem tinha inventado a melhor máquina assasina, o carro, que nos dá o privilégio visual de ver uma criança atropelada, esmagada, logo de manhã, a caminho do trabalho como anúncio de um excelente e glorioso dia. Apesar de designers, também somos consumidores e portanto vítimas do design, talvez de uma maneira mais consciente que outros, com uma percepção mais afiada, percebendo um entorno material agressivo, hostil, esmagador. Como resultado temos este caos material, um excesso que não significa necessariamente qualidade de vida.
Ser vítima se traduz em objetos/sistemas que não funcionam, ou dão indicações incorretas sobre o seu funcionamento, algumas vezes com a morte como resultado final, especialmente em acidentes de carro, onde a bolsa de ar não abriu, ou o cinto de segurança não permitiu que o condutor saísse do carro a tempo. Lembrem do recente caso dos pneus Firestone nas pickups da Ford.
Escreva uma lista mensal de tudo que não funciona e realmente é impressionante a quantidade de absurdos. Ainda de uma maneira sutil, o entorno material afeta o nosso dia a dia e nossa relação com outros seres humanos, principalmente quando acordamos com o pé esquerdo, dá tudo errado e nada funciona.
São objetos/sistemas que a pesar de ter um designer participando do processo, dão prioridade a outros aspectos, como os comerciais, esquecendo a razão de sua existência, o usuário final.
Somos também responsáveis por muito lixo, objetos inadequados, deficientes, de qualidade duvidosa, e dentro desse panorama, o designer deve refletir sobre o seu papel, já que temos uma grande responsabilidade social e ética com o nosso trabalho, e nossa realidade mais próxima.
É importante que durante sua formação como designer, o estudante também receba esse tipo de informação, com a finalidade, (talvez ingênua/idealista da minha parte) de formar um designer mais responsável e consciente, deixando um pouco de lado esse glamour babaca da profissão.
O design é uma poderosa ferramenta que deve ajudar as pessoas a ter uma vida material digna e decente, não no sentido de poder consumir ou consumir mais, mas sim de colaborar nas áreas de educação, saúde, alimentação.
O design oferece infinitas possibilidades para ficar relegado a apenas questões estéticas ou meramente decorativas, e gostaria de compartilhar com vocês, uma idéia que anda por minha cabeça faz tempo, de formar uma ONG só de designers de produto, para atacar problemas locais.
Você já pensou em trabalhar como designer voluntário?
Gostaria de sugerir os seguintes sites, para reflexão:
Trabalho genial que só um americano teria paciência para fazer, onde de uma maneira mais ilustrativa, podemos ver exemplos de objetos/sistemas mal projetados, e gostaria que professores responsáveis pela formação do aluno, usassem e divulgassem o site nas suas aulas.
www.baddesigns.com
Uma ONG internacional formada por designers famosos que usam o design com fins humanitários.
www.designfortheworld.org
Grupo internacional de designers que oferecem alternativas no chamado design sustentável.
www.02.org
Guia mundial de design de produto.
www.penrose-press.com/idd/pub/indus.html
autor: Marcio Dupont
fonte: rhoempreendedor
Uma resposta
Como aprendi nas aulas de história da arte e tecnologia: a tecnologia (techne, ars) é AMBIGUA (tanto para o bem quanto para o mau). Sendo assim, tudo que se cria vai funcionar tanto para um quanto para outro, o problema são as pessoas.