A consolidação dos blocos de rua tornou o carnaval de rua paulistano economicamente rentável. O crescimento do patrocínio privado ajuda a cobrir despesas e a incentivar o desfile de agremiações, mas donos de blocos dizem que a presença de recursos de empresas como cervejarias provoca receio de comercialização da folia na capital paulistana.
Segundo o professor de etnomusicologia da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), Alberto Ikeda, a perspectiva de ganhos e o crescimento do número de blocos atraíram o interesse comercial. “Foram surgindo outros grupos e veio o interesse comercial. Pessoas viram que aquilo podia ter algum rendimento e criaram blocos com patrocínio”, diz o pesquisador.
Em 2017, a prefeitura obteve R$ 15 milhões em patrocínio para o evento. Os recursos, em grande parte vindos de cervejarias, é importante para que os grupos possam cobrir as despesas, de acordo com Pedro Gonçalves, um dos fundadores do Bloco Bastardo, que atrai uma média de 10 mil foliões.
“Muitos blocos não têm fins lucrativos. Então, um dinheirinho da iniciativa privada vem a calhar. O preocupante é quando isso domina totalmente o carnaval”, pondera Gonçalves. Segundo ele, os grandes grupos, como o Acadêmicos do Baixo Augusta, que reúnem até 300 mil pessoas, acabam tendo a preferência das empresas na alocação dos recursos.
“A gente tem receio de que isso é muito comercial, muito atrelado ao lucro. Não é o caminho que gente quer seguir. A gente se preocupa com a referência do carnaval de Salvador, que é extremamente comercial”, acrescenta Gonçalves, a respeito das preocupações que surgem com a expansão da festa. “Eu acredito que o formato Recife/Olinda ainda seja mais generoso com esses pequenos blocos. Você tem uma estrutura estatal forte organizando o carnaval de Olinda”, aponta.
Organização
Para Eduardo Piagge, fundador da Confraria do Pasmado, criado em 2006, há dúvidas de como a festa será organizada para os próximos anos. Ele tem preocupações em relação a propostas como a apresentada pelo vereador Milton Leite (DEM), que centralizaria o comando da festa e a distribuição dos recursos em uma entidade.
“Essa associação de blocos seria responsável por organizar o carnaval. Quase o modelo das escolas de samba. Isso é muito ruim porque os blocos vão ficar sujeitos a uma associação, que não é uma entidade pública”, critica.
As vantagens que a festa trazem para a cidade precisam, segundo Ikeda, ser levadas em conta ao fazer o balanço do carnaval e ao definir os investimentos públicos na folia.
“O prefeito atual está achando que tudo isso é passível de ser comercializado, até o espaço público. Reconheço que a prefeitura tem muitas despesas: transporte, policiamento, limpeza pública. Mas a movimentação econômica desses blocos reverte-se em benefício da prefeitura com os impostos. Cada cerveja que você toma, paga imposto por ela”, enfatiza.
fonte: Revista PEGN