Como o cliente da agência de propaganda agiria se tratasse todos de quem ele “compra” do mesmo modo que trata a agência.
No médico
O Cliente-Da-Agência-De-Propaganda chega ao consultório do Médico-Especialista e diz: “Doutor, arranque fora meu fígado. Ele tá doendo muito.” O Médico-Especialista o examina e diz que vai lhe receitar um remédio. “De jeito nenhum – diz o Cliente-Da-Agência-de-Propaganda – remédio demora. Quero que o meu problema seja resolvido de uma hora para outra”. “Mas eu não posso resolver seu problema simplesmente extraindo seu fígado” – argumenta o Médico-Especialista. “Pode sim. -retruca o Cliente-Da-Agência-De-Propaganda – Eu entendo desse negócio, ele é meu. E sou eu que estou pagando”.
Na boutique
O Cliente-Da-Agência-De-Propaganda volta à Loja Chique do Shopping, onde comprara uma calça. Ele deseja trocá-la por outro modelo e explica o motivo à Vendedora-Balzaquiana-Gostosa: “Ninguém lá em casa gostou. Eles pediram outra opção.” A Vendedora-Balzaquiana-Gostosa traz outro modelo. “Olhe este. É moderno, levemente ousado e dinâmico, não acha?” O Cliente-Da-Agência-De-Propaganda veste a calça e sorri amarelo. Pede licença e sai. Volta depois, cabisbaixo. “Bem, o pessoal lá de casa gostou. Mas a minha namorada fez umas ponderações. Ela disse que eu não posso arriscar minha imagem de líder. Que tal algo menos inovador?” A Vendedora-Balzaquiana-Gostosa volta com uma calça jeans. “Agora sim?” Comemora o Cliente-Da-Agência-De-Propaganda. E sai novamente. Passam-se os minutos. Finalmente o Cliente-Da-Agência-De-Propaganda reaparece na Loja Chique do Shopping. Antes que a Vendedora-Balzaquiana-Gostosa tenha tempo de perguntar qualquer coisa, ele dispara: “Todo mundo aprovou! Só tem uma pendenciazinha: eles criticaram o custo. Será que não dá para fazer uma bermuda com a calça e cortar 50% do valor?” ·
Na lanchonete
O Cliente-Da-Agência-De-Propaganda senta-se à mesa e pede ao Garçom-Com- Dez- Anos-De-Casa: “Uma esfirra e um suco de laranja”. O Garçom-Com-Dez-Anos-De-Casa anota e volta logo depois com o pedido do cliente, mas com um detalhe: o prato e o copo são do mesmo conjunto e combinam com o canudinho e o guardanapeiro. O Dono-Experiente-Da-Lanchonete acredita que uma boa apresentação favorece a aprovação do Cliente-Da-Agência-De-Propaganda quanto à comida. Assim que é servido, o Cliente-Da-Agência-De-Propaganda examina bem e diz ao Garçom-Com-Dez-Anos-De-Casa: “Não foi bem assim que eu imaginei a esfirra. Faz o seguinte: leva tudo de volta e me traz uma coxinha e uma água mineral”. O Garçom-Com-Dez-Anos-De-Casa recolhe tudo. Logo em seguida, retorna com o novo pedido. O Cliente-Da-Agência-De-Propaganda faz cara ruim. “Não sei, essa coxinha está meio sem molho.” “Se o senhor quiser, podemos experimentar uma versão com mostarda e catchup pelo mesmo preço.” “Pode ser. Aliás, acho que você deveria ter me alertado sobre isso. Vocês, hein? Só pensam em faturar às minhas custas. Bom, já que está em cima da hora, vamos fazer assim: eu não vou beber nada. Mas dá para fazer a coxinha maior?” “Tudo bem, senhor. Temos uma coxinha maior que custa um pouco mais e…” “Ah, não! Quebra meu galho, vai. Você tem que negociar o preço dessa coxinha maior com o dono do bar. Eu não tenho verba, não tenho, você não entendeu?”
Na locadora de vídeo
O Cliente-Da-Agência-De-Propaganda entra na locadora de vídeo e pede ao Jovem-Atendente-Da-Locadora: “Eu gostaria de assistir a um bom filme. O que você sugere?” O Jovem-Atendente-Da-Locadora faz, então, breves perguntas a respeito das preferências do Cliente-Da-Agência-De-Propaganda, para compreender melhor seus desejos e necessidades. A conclusão é que o Cliente-Da-Agência-De-Propaganda quer um filme de Aventura com muita Ação, mas que tenha também um pouco de Romance, sem cenas picantes, uma boa dose de Comédia e uma pitada de Ficção Científica, com atores famosos, novos talentos, um bom diretor. E que possa ser indicado para toda a família. Afinal, o Cliente-Da-Agência-De-Propaganda quer agradar todo mundo. O Jovem-Atendente-Da-Locadora sugere De Volta para o Futuro. “Me conta o filme. Todo.” – pede o Cliente-Da-Agência-De-Propaganda. Após contar todo o filme, o Jovem-Atendente-Da-Locadora já está empurrando a fita, devidamente embalada na sacolinha. “E então? Muito bom, hein? Exatamente o que senhor pediu.” O Cliente-Da-Agência-De-Propaganda pensa um pouco e responde: “Eu quase gostei. Talvez fosse melhor se o jovem Marty seguisse o conselho do Dr. Brown e não salvasse o próprio pai do atropelamento, para não alterar o futuro. Faz o seguinte: me dá aí As Aventuras de Simbad, que todo mundo já viu e gostou. Assim eu não corro risco.”
Na pizzaria
O Cliente-Da-Agência-De-Propaganda entra numa pizzaria e diz à Moça-Balconista-Da-Pizzaria: “Moça, há pouco eu pedi por telefone duas pizzas: uma de aliche e outra de calabreza. Eu gostaria de devolvê-las.” “Porquê, senhor, algum problema?” “Veja bem, senhorita: eu queria uma pizza, mas não dava conta de comê-la sozinho. Mesmo assim encomendei uma a vocês, apenas para mostrá-la à minha família, tentando convencê-los a dividir a pizza e o pagamento comigo. Entretanto, havia um problema: minha mulher gosta de aliche, mas meu filho prefere calabreza. Então pedi uma de cada. Mesmo aprovando a iniciativa e elogiando o aroma das pizzas, infelizmente eles estavam sem dinheiro e não puderam concretizar esta parceria comigo. Sendo assim, eu também fiquei sem comer a pizza. Por isso quero devolvê-las.” “Senhor, não podemos aceitá-las de volta. O senhor pediu…” “Pedi, mas não usei, quero dizer, não comi. E como não comi, não acho que tenho que pagar. Mas quero deixar bem claro que elas me parecem de excelente qualidade e que, assim que eu tiver recursos disponíveis, entrarei em contato com vocês e encomendarei novamente essas belíssimas pizzas de aliche e calabreza.”
Na concessionária
“Por favor – _ pede o Cliente-Da-Agência-De-Propaganda ao Alinhado-Vendedor-De-Carros-da-Agência-De-Veículos-Semi-Novos – eu gostaria de comprar um carro que deixasse todo mundo encantado comigo.” “Pois não, senhor. Eu recomendo este BMW aqui. Ele foi projetado pelos melhores designers, desenvolvido pelos melhores engenheiros e produzido por uma das melhores montadoras do mundo.” “Perfeito. Quanto?” “Custa a bagatela de X.” “Como? _ começou a bufar o Cliente-Da-Agência-De-Propaganda – Você está pensando que dinheiro é capim? Vamos dar um jeito de cortar estes custos. Primeiro: os faróis. Para quê quatro? Bastam dois. E estes pneus largos? Com pneus mais finos o carro anda do mesmo jeito. Bancos de couro: qual o problema com o tecido comum? Pode trocar. Deixa eu ver o quê mais. Ah, o motor. Troque-o por um 1.0, que é mais econômico. E já que vai trocar o motor, tira os freios ABS, agora não precisa mais deles. Vidro, retrovisor e trava elétricos são caprichos à toa. Pode ser tudo manual mesmo. E em vez de pintura metálica, o carro pode ser branco, que está na moda. Anotou tudo? E não se esqueça de aumentar o logotipo BMW na frente e atrás. Afinal de contas, todo mundo tem que ver que é um BMW, não é?”
Ligando de volta para a pizzaria
“Alô. Oi, aqui é o Cliente que devolveu duas pizzas outro dia. Olha, eu arranjei uns amigos para dividir a conta comigo. Então, pode mandar entregar aquele pedido. Ah, só uma alteraçãozinha: dessa vez mande uma Quatro Queijos e a outra Portuguesa. E eu quero ver tudo antes de mostrar para eles”.
fonte: texto foi postado na lista da DG e reproduzido num na comunidade do orkut Diretores de Arte II pela Mônica Fuchshuber
Respostas de 5
Muito bom!!!!!!
Além de ser um texto inteligente, ele faz as comparações exatamento como acontecem.
Não sou nenhuma publicitária. Faço Administração e estou elaborando meu TCC sobre Agência de Publicidade.
Mas sou cliente, e me identifiquei muito com o Cliente-Da-Agência-De-Propaganda.
Esta é a realidade.
Uau, exemplos perfeitos, talvez só quem trabalha na área para entende-los.
Texto muito bom, quem vive no mundo de uma agência sabe que as comparações estão perfeitas.
esse foi um dos melhores textos que eu li ultimamente.
a realidade da propaganda é mesmo uma merda.