A oportunidade concedida ao Brasil para sediar a Copa de 2014 pode se transformar em um grande catalisador de investimentos para o País, tanto em infraestrutura urbana, marketing turístico, mas principalmente como um alavancador do mercado brasileiro de futebol, através do investimento em estádios e do aquecimento da demanda pelas marcas dos clubes.
Investimentos realizados em diferentes mega-eventos como a Copa do Mundo e Jogos Olímpicos, nas últimas duas décadas, demonstram o potencial econômico e social para o país-sede da oportunidade recebida. Para uma correta realização e principalmente posterior legado de uma Copa do Mundo, os players envolvidos com o evento: Comitê Organizador e a Federação das Associações Internacionais de Futebol (Fifa), Governo, empresas e clubes de futebol devem seguir preceitos estratégicos na gestão do projeto nacional para a realização do mundial, como:
* Sucesso na organização do evento em termos financeiros e esportivos, desde o projeto inicial até a competição;
* Transformação urbana e infraestrutural das cidades-sede;
* Legado de longo prazo para o país anfitrião tanto em termos econômicos como pela ampliação da prática esportiva da população, desenvolvimento turístico e investimento social;
* Impacto econômico para o mercado do futebol.
Um bom exemplo recente é o caso da Copa do Mundo da Alemanha, em 2006, que contribuiu para uma melhora na economia do país como um todo no ano do mundial e o desenvolvimento do seu mercado do futebol em particular, já que foi diretamente responsável para o futebol alemão aperfeiçoar consideravelmente seu ambiente de negócios, pelo consumo dentro dos estádios, na ampliação do interesse de patrocinadores e maior envolvimento dos torcedores no consumo das marcas dos times. Além disso, após a Copa do Mundo o mercado alemão se beneficiou de um excelente contrato televisivo que em 2007 gerou ? 580 milhões para os 36 clubes de primeira e segunda divisão. Nesse ano a Bundesliga tornou-se a segunda colocada em geração de receitas entre as Ligas de primeira divisão da Europa e até 2006 figurava na quarta posição do ranking europeu.
A Casual Auditores Independentes, empresa de auditoria especializada em entidades desportivas acaba de publicar o estudo “Casual Report- Panorama Financeiro do Futebol Brasileiro”, que apresenta uma extensa análise sobre a gestão dos principais clubes de futebol do Brasil nos últimos 5 anos e projeções para o mercado brasileiro de clubes de futebol com perspectiva para 2008-2014. No report há uma análise específica sobre o legado da Copa do Mundo de 2006 para o futebol alemão, já que os clubes que disputam a Bundesliga e Bundesliga 2 apresentaram um salto contundente em suas receitas nos últimos 5 anos.
O futebol alemão, entre 2004 e 2007, apresentou uma evolução significativa dos gastos do público e de empresas nos estádios, receitas de marketing que incluem patrocínios e venda de produtos e também pelo novo contrato de TV. Na temporada 2003-2004, o faturamento dos 36 clubes foi de ? 1,28 bilhão e após quatro anos, na temporada 2006-2007 – um ano depois da realização do Mundial – os clubes apresentaram receitas consolidadas de ? 1,75 bilhão, uma evolução de 37%.
A Copa do Mundo foi realizada no final da temporada 2005-2006 e esse bom resultado do futebol alemão na fase de preparação da Copa do Mundo e em 2007, deve-se ao investimento realizado no oferecimento de uma infraestrutura de consumo, entretenimento e relacionamento com o público que freqüenta os estádios e também pelo aquecimento da demanda do mercado alemão de futebol em patrocínios, venda de produtos para o torcedor e contratos televisivos.
As novas receitas com os estádios alemães foram os maiores responsáveis pela evolução econômica do futebol do país na Europa, já que as receitas com estádios dos 36 clubes atingiu ? 365 milhões em 2007, evolução de 66% em relação à temporada 2003-2004, o que representa cerca de ? 29 milhões novos gerados a cada ano, nos últimos cinco exercícios.
Se os clubes brasileiros conseguirem instituir, por meio de estratégias de marketing específicas para a exploração comercial mais eficiente de seus estádios atualmente, o mercado pré – Copa pode se preparar para o ciclo de investimentos que virá. A aproximação da definição das sedes para a Copa de 2014 servirá de ponto de partida em 2009 para que o País construa uma perspectiva altamente positiva para o mercado do futebol, graças à possibilidade de investimento para a construção e reforma de estádios e também pela ampliação de interesse midiático e mercadológico pelo futebol brasileiro.
A atual crise global gera dúvidas sobre o custo e disponibilidade dos recursos para investir em estádios, mas por outro lado em 2014 o Brasil já tem o compromisso de receber o evento. Assim, os projetos a serem apresentados para os investidores, devem ser centrados na geração de receitas do espaço esportivo como uma unidade de entretenimento, com experiências de consumo memoráveis. Os clubes de futebol, contemplados ou não pelos estádios nas cidades-sede devem criar um modelo de negócio mais atrativo que o atual, através do impacto que a realização do Mundial vai causar em seus negócios e nos serviços oferecidos no estádio. Essa ampliação dos negócios em torno dos clubes é essencial para que tenhamos um legado para o futebol brasileiro após a realização do evento.
A pergunta que cada brasileiro deve fazer é, se queremos o legado de uma Copa do Mundo para 30 dias ou para 30 anos?
autor: Amir Somoggi
fonte: Gazeta Mercantil