Atualmente, muito se fala na importância do design na construção de marcas e mercados. A cada dia, novos termos, jargões e expressões somam-se as complexas estratégias de negócios, com seus planos de marketing elaborados e ações de comunicação detalhadas. Mais e mais somos envolvidos em táticas de guerra para criar campanhas e peças de design que gerem lucro e dêem resultados. A pergunta que faço, entretanto, a todos os designers é simples: será que conseguimos tocar o coração das pessoas com o design?
Vivemos na era do marketing pessoal, one-to-one, comunicação dirigida, mídias segmentas, mensagens personalizadas, foco no cliente. Acredito, porém, que nós criadores é que estamos perdendo o foco. Nossas atenções, pelo que tenho observado, estão voltadas ao mecaniscismo, às fórmulas prontas e pré-formatadas, aos clichés visuais, levados a isso, muitas vezes, pela falta de tempo, motivação ou coragem.
Vemos poucas peças gráficas que podemos dizer “isso me chamou a atenção” ou ainda “fiquei comovido lendo aquele cartaz”. Costumo dizer que design eficiente é design surpreendente; e não existe coisa melhor do que surpreender um desconhecido em um momento qualquer de sua vida levando-o a refletir alguns minutos sobre determinado assunto. Isso é o verdadeiro “BOM DESIGN”.
Preocupado com essa tendência, o designer austríaco Stefan Sagmeister comenta em seu livro Made You Look que, para uma peça gráfica emocionar, precisa ter os seguintes atributos: abrir novas perspectivas ao observador / resgatar lembranças / mostrar paixão e comprometimento / ser surpreendente / mostrar refinamento gráfico / ser bela. Apenas seguir uma lista como essa não é garantia para criar uma peça que toque o coração das pessoas.
O principal fator é fazer com amor e, plagiando a expressão futebolística, colocar o coração na ponta do mouse. E como fazer isso? A experimentação e a liberdade da forma são alguns caminhos para conseguir emocionar alguém. Quebrar paradigmas, formalismos desnecessários e deixar os déja vus de lado são um passo importante para produzir design surpreendente.
Um ótimo exemplo disso, são as inúmeras peças criadas para a Benetton (entre 1982 e 2000) pelo designer e fotógrafo italiano Oliviero Toscani. Percebemos em suas criações uma despreocupação com o convencional e uma busca visceral pelo controverso, o proibido e o inusitado. Seu principal objetivo foi mostrar o mundo como é na realidade, sem as ilusões e fantasias criadas pela comunicação. O resultado foi a projeção mundial que a marca ganhou, ocupando um lugar de destaque no mundo moda, provando, definitivamente, que design que toca o coração também dá lucro.
Da maneira como as coisas estão indo, o design pode se tornar uma atividade fria, insípida, meramente executora de planos de comunicação e estratégias de vendas. Cabe a nós, profissionais da área gráfica, reverter essa triste e deplorável tendência, transformando nossas criações em peças gráficas que sensibilizam e tocam o coração das pessoas. Em um mundo repleto de futilidades e verdades efêmeras, um pouco de paixão não fará mal a ninguém.
autor: Zé Henrique Rodrigues
fonte: Tudocom