Hoje procuramos mais e mais produtos personalizados, que correspondam a nossa personalidade. É o fim da linha de produção a la Ford. Cansamos do fast-food. De alguma forma, despertamos para nossas idiossincrasias e as valorizamos. E queremos que o mundo as valorize também.
Daí, a cada dia, surgem novas marcas que procuram nos proporcionar essa sensação única. Percebemos a riqueza de ter um jeito próprio, uma roupa própria, uma trilha sonora que corresponda a nossa vida. Quando assobiamos aquelas poucas notas de uma melodia de um filme como Contatos Imediatos de Terceiro Grau, contatamos também uma experiência única, voltamos no tempo – como Proust com o bolinho Madeleine em que rememora Combray – reencontramos o eu perdido na infância, no bailinho e a primeira namorada, o primeiro tombo da bicicleta.
Saímos feito loucos para um lugar qualquer no deserto para ter esse contato com algo novo. Ou antigo. É uma relação sinestésica que temos com os acontecimentos: tato, olfato, paladar, visão e som. Por isso a importância fundamental da trilha sonora: ela complementa as sensações, enriquece a percepção de algo, potencializa a experiência.
Quando ouvimos a mesma música tocada em três, quatro, cinco filmes diferentes, pensamos: eles estão se referenciando? Ou simplesmente se copiando sem imaginação alguma? E quando aquela música tocando no site nos dá a sensação de estarmos habitando o mesmo loungezinho qualquer, com a mesma melodiazinha qualquer? Os sites se tornam os mesmos, por mais que os efeitos de transição, as animações, o conteúdo, a informação sejam sui generis. Mas aquela melodia batida e mal aplicada, copiada à exaustão, ou aplicada sem critério, faz daquele site uma experiência óbvia.
Na concepção de um site, a importância do som é fundamental. Ela releva a experiência na navegação, completando-a. Não basta “jogarmos” aquela musiquinha de fundo e acreditar que isso contribuirá para experiência de marca. Além do erro corrente de cair no lugar comum e de proporcionar a sensação da cópia, ocorre uma apropriação indevida, muitas vezes, de uma obra e de sua corrupção, à medida que a apropriação se dá sem adequação entre o que se tem a dizer e o como dizer.
No melhor dos mundos, gostaríamos de sempre desenvolver sites com trilhas sonoras próprias, sonoplastias únicas e proporcionar uma experiência tão completa quanto nossos mais desejos juvenis almejam. Incentivamos nossos clientes a tanto. O preço? Muito menor do que o preço que se paga por desafinar os acordes da marca.
autor: Ruis Vargas
fonte: Revista Publicidad