Você começa a trabalhar na criação de uma agência. Recebe o seu primeiro job e lê atentamente, interpretando as entrelinhas, doido pra achar uma oportunidade de botar pra fora logo uma idéia docaralho e mostrar que você chegou pra arrebentar. Você termina de ler o job, começa a pensar e se dá conta de que não entendeu nada. Peraí: O que precisamos anunciar? O que é pra criar? Campanha? Anúncio? Mala-direta? Nada disso? Ação de marketing viral? (tá na moda). E agora?
Falar com o Diretor de Criação: cara, o que é pra dizer aqui, mesmo? Ele diz: você é novo. Vá se acostumando. É assim mesmo. As informações vêm incompletas. Atendimento é tudo igual. Eles não vão atrás de conteúdo. Não põem anexos. Só sabem passar pra frente o abacaxi. É um leva-e-traz. Os jobs vêm aos números, todos iguais, atraídos por uma tal de pauta, e vão entrando lá e têm que acabar saindo, atraídos por um tal de prazo. Você olha pra dupla ao seu lado, que já tem alguns anos de profissão e vê que eles fazem caretas quando o atendimento passa pela sala. Torcem o nariz pros jobs. Fazem piadinhas com trocadilhos criativos, que caberiam em anuários. Compõem paródias musicais. Caricaturas que são um prato cheio aos psicólogos.
Passam dois meses e você já se juntou a eles. Vai pro bar resmungar. Falar mal de atendimento. Meter o pau nos jobs mal escritos. Aquele que encontrar menos erros de concordância é mulher do padre!
Passam mais dois meses e você se sente pesado quando entra na agência. Começa a fazer parte de uma panelinha de inteligentes. Os outros são uns bostas e estão impedindo você de fazer um bom trabalho. Sem falar nos prazos: tudo pra amanhã! Lá na ALMAP ou na F/Nazca nunca que deve ser assim. Deve ter só jobaço, que já vêm com tudo explicadinho. Assim, até eu! Era prêmio atrás de prêmio.
Como não se tornar um reclamão-azedo-chutador-de-cachorros-pequenos.
A vida é como um filme onde você é o diretor. Se você entregar o mesmo roteiro para 3 diretores diferentes, terá 3 filmes totalmente distintos. Faça você o seu filme: você ilumina. Você faz o enquadramento. Você decide se os planos serão longos ou curtos. Você decide se a trilha sonora vai ser bossa nova, rap ou tango. Você decide as locações.
Uma coisa é certa: destruir é muito mais fácil que construir. Se você assumir o comportamento-padrão-reclamação, vai terminar muito insatisfeito. Construa: vá atrás das informações. Se você ficar com a bunda na cadeira, esperando que lhe tragam tudo na bandeja, não vai receber o que quer. Tem que enfiar o nariz em tudo que é buraco. Descobrir o cheiro de tudo. Envolva o atendimento nisto. Vão juntos pra rua ver como funciona a coisa. Não dá tempo? Insista. Converse muito com ele ou ela e trate as pessoas com o mesmo respeito que você merece. A posição do atendimento também não é nada fácil: sofre as pressões do cliente e dos diretores da agência. Uma conversa inteligente, e não arrogante, abre os poros. Peça opinião. O outro lado se sente valorizado. É muito melhor jogar com a equipe inteira que sozinho. O fato é que as agências de propaganda estão parecendo várias empresas dentro de uma só. Cada departamento pensa de um modo diferente. Têm objetivos diferentes. E ainda concorrem entre si. Esta fórmula tem tudo pra dar errado. Alguém tem que começar a mudar isto. Ou vamos esperar um pouco mais?
autor: Marco Togo
fonte: Tudocom
Uma resposta
gostei do post, muito obrigado! 😉