A origem do ombudsman geralmente é atribuída à Suécia no início do século XIX, ou seja, há cerca de 200 anos. Os cidadãos suecos sofriam arbitrariedades atribuídas aos juízes do reino e suas reclamações não eram ouvidas pelo rei, já que não havia um sistema de comunicação que assegurasse a sua eficácia. Os juízes, evidentemente, não tinham interesse em repassar ao rei os motivos da insatisfação do povo. A instituição do ombudsman veio suprir essa lacuna perigosa na comunicação, que ocultava as arbitrariedades cometidas pelos juízes.
O ombudsman era, portanto, um funcionário público que representava os interesses do povo junto ao mais elevado nível de poder do reino. Nos órgãos públicos brasileiros esse profissional tornou-se conhecido como ouvidor, enquanto o nome ombudsman passou a denominar, em nosso País, o representante dos clientes das empresas privadas junto à alta cúpula do poder.
Durante uma de minhas pesquisas acadêmicas, no entanto, defrontei-me com o conhecimento de uma atividade do ombudsman bastante incomum. A empresa pesquisada vivia um pesadelo que, infelizmente, parece não ser tão raro. Tratando-se de uma empresa fornecedora de mão-de-obra de média e baixa qualificação, com atuação nacional, muitos funcionários e funcionárias exerciam as suas atividades profissionais em localidades isoladas, bem distantes da sua sede e, em conseqüência, de sua estrutura gerencial.
Tal peculiaridade proporcionava a supervisores inescrupulosos a oportunidade de assediar, sexualmente, as funcionárias subalternas, geralmente de origem humilde e altamente dependentes dos ganhos obtidos pelo trabalho. Suas recusas a tais assédios eram respondidas por sumárias demissões sem que as respectivas gerências sequer soubessem – evidentemente – das verdadeiras razões. Essas desventuradas criaturas ficavam expostas à sanha de seus chefes imediatos e não tinham a quem recorrer.
Felizmente, após certo tempo, houve vazamento desses fatos e a direção da empresa adotou a figura do ombudsman de funcionários para defender seus interesses perante a alta gestão da organização. Foi instituída uma linha direta e confidencial deles com o ombudsman e a este foi atribuído o poder e a autoridade para pesquisar as denúncias recebidas das abordagens sofridas pelas mulheres, analisar sua procedência e sugerir a adoção de soluções imediatas.
Os detalhes não serão citados, mas vários supervisores foram demitidos, mulheres deixaram de ser chantageadas por seus chefes e o ambiente de trabalho melhorou significativamente. E o ombudsman, até onde eu acompanhei, continuava a sua missão prestigiado pela alta gestão.
O êxito dessa iniciativa pioneira incentivou-me a sugerir aos meus clientes de consultoria de gestão empresarial a implantação da figura do ombudsman, não apenas como representante dos seus clientes na empresa, mas também de seus fornecedores e, como no caso citado, de seus próprios funcionários.
Com o suporte apropriado de consultores competentes a implantação do ombudsman pode proporcionar à organização a transformação necessária para alavancar seus resultados, reduzir a sua vulnerabilidade a processos judiciais e melhorar significativamente a qualidade do ambiente de trabalho.
autor: Isaac Pinski
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