Vi esta publicação no Facebook e embora seja direcionada a uma situação que envolve um ilustrador, ela abrange outras profissões, então vale o registro dela aqui no IFDBlog.
A propósito, deixei o texto, que na verdade é um desabafo de um profissional, sem edição. Espero que os palavrões não firam os olhos de ninguém.
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Anônimo disse: U$100 é muito dinheiro por uma página inteira.
E quanto custa um pão? hm? U$3? U$5?
Na vendinha perto de casa custa uns U$4.50 por um pão italiano de tamanho decente. Quer dizer que se eu fizer U$7.25 por hora, eu vou ter que trabalhar 37 minutos e meio pra comprar um pão.
Mas peraí, isto não é tão ruim, né? Trabalhe por duas horas e você terá um sanduíche, hem?
Opa, mas acontece que eu também preciso de papel higiênico, arroz, frango, umas verdurinhas, uma lata de sopa e alguns cereais. (só pra listar alguns itens básicos que uma pessoa precisa manter no orçamento) vamos arredondar estas coisas pra U$25 só pra facilitar as contas.
Ganhando U$7.25 por hora, eu vou ter que trabalhar por 3 horas e meia pra fazer uma comprinha básica.
Isto não inclui outras contas, nem gasolina, nem os outros alimentos que eu preciso. Isto banca UMA paradinha no mercado e eu tenho que pra trabalhar metade do meu dia só para isto.
O que você não entende, Anônimo, minhas páginas podem tomar HORAS, senão DIAS. Entre a fase de sketching, colorização, lettering até o acabamento, foram pelo menos dois dias de trabalho, senão mais, por cada página.
Eu tenho um trabalho que me paga o feijão, eu não tenho como produzir mais páginas por semana sem uma compensação. Literalmente, eu não tenho como fazer isto. Sem mencionar a ideia que quando a arte só vale o seu mínimo, ela desvaloriza a quantidade de trabalho e esforço necessários na sua produção. Eu deveria estar faturando MUITO ACIMA dos preços mínimos por minha arte, pelos “page count” e comissões, mas tem um maldito comportamento “deviant art” que faz as pessoas pensarem que estão sendo vítimas de fraude por pagar salários minimamente decentes para os artistas.
Isto é ao mesmo tempo agressivo e infantil, e eu te peço por favor que pare de considerar os artistas como não sendo merecedores de se manter numa vida normal.
Você pode me pagar o que eu te peço ou parar de reclamar sobre o que eu já te dou de graça.
Eu não aguento estas malditas pessoas que dizem aos ilustradores que o que eles produzem é “muito caro”.
Vocês felasdasputas querem barato? Vão comprar uma resma de papel, peguem a porra do lápis e desenhem vocês mesmos, cacete, porque não há nenhum freelancer na internet, destes que ainda não completaram nem metade do caminho no mercado da ilustração, cobrando de você QUALQUER VALOR próximo da média de mercado, mesmo quando alguns de nós são bons, se não melhores do que os outros.
E por quê? É por causa de gente como você, Anônimo. Seu nome tem que estar lá e ser conhecido para que você possa cobrar algo próximo ao que o seu tempo e talento vale. E quer saber? Você está me pagando pelo meu esforço, meu tempo, meu sangue, suor e lágrimas e uma vida inteira de aprendizado do meu ofício.
Uma página barata pro seu rabo é um pedaço de papel que eu ainda nem toquei.
(Como um freelancer, eu não agueeeeeeeeento quando gente fala merda).
U$ 100 é muito barato por uma página.
Matemática básica, para o Anônimo aí: Pegue estes U$100 e veja quanto dá por hora. Avalie o custo em materiais, em habilidade adquirida por estudos e experiência. Tenha em mente que um custo por página não garante *de forma alguma* que exista alguma chance de contratação, o que quer dizer que cem dólares por página é tudo que o artista pode ganhar, e nada mais.
E aí, quando você fizer seus cálculos, pense em termos de como há poucos artistas que conseguem sobreviver com pagamento por hora.
Quer um artista profissional, Anônimo? Pague-o como um maldito profissional.
Eu quero acrescentar que um profissional de qualquer nível é auto-empregado, e tem o direito de cobrar valores baseados em seu próprio nível de habilidade e a quantidade de trabalho que ele ou ela dedica a isto.
autor: Jamal Igle
fonte:
tradução: Montalvo Machado
UPDATE
Primeiro video do canal RODA REDONDA no youtube, de uma série, sobre valores e preços, destacando o termo “valor percebido” como forma de melhorar as negociações com seus clientes.
Links sugeridos no video
– Video do Stephen Silver, legendado em português, sobre a necessidade da valorização do artista.
– Outro video do Stephen Silver sobre o mesmo assunto, em inglês.
– Postagem sobre diamantes e o questionamento sobre seu verdadeiro valor (em inglês)
– Texto sobre o monopólio da empresa De Beers no mercado de diamantes (em português)
Pra quem quiser ficar ligado nos outros vídeos que serão publicados sobre o assunto, sugiro assinar o canal no youtube RODA REDONDA, além de acompanhar as publicação do blog Roda Redonda e do blog Sketcheria.
Uma resposta
Muito bom o post, uma utopia entre "Não é só pelos 0,20 centavaos" rs… Mas a base é exatamente, infelizmente a negociação sempre é desvalorizada e atualmente amplificada por empresas como WIX que oferece um construtor gratuíto de sites, assim, os "compradores" creditam essa gratuidade nas agências ou freelas…