O crescimento dos cursos digitais foi uma revolução no acesso ao conhecimento. De tutoriais gratuitos a programas completos pagos, a internet facilitou muito a vida de quem quer aprender, melhorar a carreira ou expandir horizontes. Mas, junto com essa democratização, surgiu também um problema que está longe de ser pequeno: a quantidade de gente despreparada se vendendo como especialista.
E quem critica isso não está atacando o digital, está apenas apontando um problema real. O formato não é o vilão da história. O problema é a falsa autoridade.
A crítica não é ao curso online — é ao charlatanismo
A discussão sobre cursos online muitas vezes escorrega para um lugar superficial. Parece que, ao criticar a qualidade de alguns conteúdos, estamos atacando a ideia do aprendizado digital como um todo. Mas não é disso que se trata.
O problema são os “professores” de fachada: gente sem formação adequada, sem vivência de mercado, sem case prático, mas com um bom carisma e habilidades de venda afiadíssimas. O conteúdo? Frases feitas, slides genéricos e repetição de clichês de LinkedIn.
Criticar isso é proteger o conhecimento. É preservar a credibilidade de quem realmente tem o que ensinar.
Ensinar exige mais do que saber fazer
Ensinar exige didática, preparo, referências, metodologia. Exige responsabilidade com o impacto que aquilo pode ter na vida e na carreira de quem está aprendendo.
Vender um curso não é só montar uma página bonita com depoimentos estrategicamente recortados. É assumir o compromisso de entregar algo de valor real. É respeitar o tempo (e o bolso) de quem está do outro lado.
O consumidor tem culpa ou está sendo enganado?
Sim, o consumidor também tem responsabilidade. Mas colocar toda a culpa em quem compra é ignorar a dinâmica da propaganda e o poder de persuasão de quem sabe vender.
Se fosse tão simples assim, não existiriam golpes financeiros, charlatanismo em saúde, produtos falsificados sendo vendidos como autênticos. Muita gente cai porque confia, porque quer melhorar de vida, porque acredita no discurso de transformação. E quem vende, sabendo que não vai entregar aquilo tudo, tem sim responsabilidade sobre o que promete.
O preconceito contra quem estuda presencialmente
Outro ponto curioso é o deboche de alguns contra quem ainda busca formação presencial, como se fosse sinônimo de atraso. Já ouvi de tudo: “vai fazer presencial igual os maias?” ou “quem tem tempo pra sentar em sala hoje em dia?”.
Sim, o tom é usado como piada — mas a verdade é que há muitos profissionais investindo em cursos presenciais, MBAs e pós-graduações de alto nível. A ESPM, por exemplo, está com uma pós agora que inclui o Kotler no programa. E quem está lá? CMOs, líderes de marketing, gente que entende o valor de uma formação profunda.
Maia eles não são.
O verdadeiro valor está no compromisso com o ensino
Cursos online são uma ferramenta poderosa. Mas, como qualquer ferramenta, podem ser usados para construir ou para enganar.
Não adianta transformar qualquer pessoa com boa oratória em mentor. Não adianta pegar meia dúzia de posts e chamar de módulo. Não adianta vender conhecimento sem respeitar o peso que ele tem.
Enquanto a prática de vender sem saber continuar comum, as críticas continuarão existindo. E, mais do que justas, elas são necessárias.
NOTA IFD: Este artigo nasceu de uma troca nos comentários de uma publicação em que alguém questionava por que as pessoas ainda criticam quem vende cursos online. A provocação vinha com um tom de deboche: “como vocês aprendem? Presencialmente? Como faziam os maias?”. A resposta que dei ali — e que gerou bons debates — foi o ponto de partida para refletir mais a fundo sobre o tema.
Porque sim, a crítica existe. Mas nem toda crítica é ataque. Às vezes, ela é só maturidade profissional.