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O massacre dos EUA e a publicidade de armas

Especialista norte-americano lista responsabilidades das estratégias de marketing da indústria de armas nos massacres em escolas nos Estados Unidos.

Há uma suja e inconveniente verdade a respeito das raízes da violência gerada pelas armas nos Estados Unidos ocultado pela mídia, de acordo com Wayne LaPierre, líder da National Rifle Association (NRA). Na primeira coletiva de imprensa de sua entidade, que defende a posse de armas, após o massacre no colégio de Newtown, em Connecticut (Estados Unidos), em 14 de dezembro, ele afirmou que se trata da “insensível, corrupta e corruptora sombra” dos videogames. Não surpreendeu quando o site Politico publicou notícia dando conta de que o atirador, o estudante Adam Lanza, era um jogador habitual de games violentos. Mas e no que diz respeito a indústria da propaganda? Ela não tem uma participação nessa história, também?

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Ela tinha claramente no passado, quando os anúncios estavam muito mais em evidência do que temos hoje. Anúncios de armas portadas por adolescentes eram um lugar comum. Um artigo revelador na blogosfera lista uma dúzia (ou quase isso) de antigos anúncios impressos que soam chocantes para nossos padrões atuais. Um deles mostra um garoto sardento segurando uma arma ganha como presente de Natal e exclama: “Nossa papai… Uma Winchester!” O autor do post, Solveig Grothe, escreve que o anúncio revela “a indiferença com que americanos à época, e em grande medida agora, lidam com a questão das armas”.

Hoje, porém, a propaganda é mantida bem distante das grandes audiências. Após uma enxurrada de petições à Federal Trade Comission contra anúncios de armas nos anos 1980 e no início dos 1990, escreve Tom Zeller, a indústria entendeu o recado e decidiu confinar sua publicidade à sua base de consumidores já existentes, sobretudo via revistas especializadas em caça e publicações voltadas a armas e munições, além de jornais locais e TVs regionais em áreas onde o porte de armas é comum.

Ainda assim, a publicidade de armas segue sendo acusada de alimentar um culto à masculinidade que ajuda a dar força à cultura da violência. No Huffington Post, Sanjay Sanghoee acusa a indústria de armas de tentar recriar o fenômeno do homem de Marlboro: “Desde armas que irradiam masculinidade e da guerra até campanhas de marketing meticulosamente planejadas para despertar o mais oculto John Wayne que há em cada um de nós, a indústria consistentemente joga armas sobre os americanos – exatamente como empresas de tabaco vendem cigarros”.

Um exemplo bem acabado disso é o site da fabricante de armas Bushmaster, marca que produz o rifle usado no massacre de Newtown. Ela distribuía “cartões de homem” para visitantes que conseguissem provar sua masculinidade respondendo a uma série de questões de “macho”. Você come tofu? Consegue trocar um pneu? Alguma vez assistiu patinação artística “intencionalmente”? Depois de 20 crianças terem sido massacradas em suas salas de aula, a página foi removida.

Maioria dos homens brancos acham mais importante defender o direito irrestrito ao porte de armas. Índice cai pela metade entre negros e latinos

Afora os fabricantes, os videogames fornecem um próspero santuário de promoção das armas. O The New York Times recentemente informou que “produtores de armas de fogo e equipamentos correlatos enxergam videogames como uma maneira de promover suas marcas para milhões de consumidores potenciais”. A Electronic Arts, dona da franquia de jogos “Medal of Honor”, destaca links para os sites de empresas como a McMillan Group, fabricante de um potente rifle sniper, e a Magpul, companhia que vende revistas especializadas e acessórios para armas.

Em paralelo, num esforço para atingir o público feminino, o grupo de mulheres da National Rifle Association, patrocinada pela Smith & Wesson, divulga lojas de varejo digital voltadas à “moda bélica”. Uma delas é a GunGoddess.com, que oferece camisetas exclusivas, linhas de joias personalizáveis para guardar balas e luvas de couro brilhantes para atiradoras.

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Mas um estudo recém-publicado pelo Pew Reasearch Center confirma que a posse de arma segue sendo um hábito esmagadoramente de homens brancos. Quando perguntados sobre o que era mais importante, proteger o direito de portar armas ou controlar a posse, 51% deles escolheram a primeira opção. Fazendo um recorte entre homens negros, esse índice cai para 24%. Outro estudo do Pew, de abril, aponta que o número de homens latinos a favor do direito ao porte era de apenas 29%.

Obviamente, qualquer anunciante cioso de seu negócio quer entender o que é isso que move essa obsessão de homens brancos por armas. Seria a publicidade do passado? Ou sua obsessão com masculinidade?

Grandes redes de varejo deixaram de vender armas depois do massacre em Connecticut. Mas americanos ainda têm opiniões divididas sobre o tema

Se você perguntasse ao Michael Moore (diretor de Tiros em Columbine), ele diria que isso se deve ao medo. Foi o que ele escreveu em um blog do Huffington Post em julho passado, em meio ao noticiário relacionado aos tiros disparados num complexo de cinemas em Aurora, no Colorado. Na ocasião, o cineasta e ativista defendeu que “nós americanos somos pessoas facilmente impressionáveis e é fácil nos manipular e amedrontar pelo medo”. Lisa Wade, socióloga do Occidental College que estuda tendências em publicidade da indústria de armas, escreve que desde os anos 1990 “nós vemos uma nova forma de publicidade, na qual a autodefesa é o ponto central para vender as armas”. No estudo do Pew, entre donos de armas, 58% sentiu que a posse da arma mais ajuda a proteger as pessoas do que a colocar a segurança dessas mesmas pessoas em risco.

Uma consequência da tragédia de Newtown é o recuo, após forte pressão, de alguns anunciantes no que diz respeito a armas. De acordo com o The Wall Street Journal, a rede de varejo Dick’s Sporting Goods suspendeu as vendas de rifles semi-automáticos em suas 480 lojas. O Walmart deletou de seu site uma lista de produtos semelhantes. E o fundo de private equity Capital Management disse que tentaria vender o Freedom Group Inc., fabricante da Bushmaster, arma usada pelo autor dos disparos em Connecticut.

Um movimento no sentido de restringir a indústria de armas pode provocar mais mudanças no mercado de comunicação. Isso pode resultar no fim do atendimento a empresas desse setor ou talvez o desenvolvimento de formas mais responsáveis de apresentar os produtos bélicos. Mas pesquisas recentes sobre leis de restrição de posse de armas mostram que os americanos ainda têm posições bem divididas. Para aqueles de nós contrários às armas – que desejam que nossa indústria não tivesse nada a ver com elas – ainda há um longo caminho pela frente.

autor: David Morse
fonte: http://www.meioemensagem.com.br/

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