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Critérios práticos para o design editorial e paginação

O que é legibilidade?

A eficiente leitura de uma página impressa requer que o leitor converta, o mais rápido possível, símbolos tipográficos — caracteres — em conceitos. A legibilidade é a facilidade em desempenhar esta descodificação.

Ovink define-a como “a facilidade e precisão com a qual o leitor percebe os textos impressos”. Este processo pode-se descrever com dois termos diferentes

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– legibilidade, legibility (percepção visual)
– e lecturabilidade, readability (compreensão intelectual do texto).

No presente enquadramento, o foco está na legibilidade.

A pesquisa empírica da legibilidade de letras e números, auxiliada por métodos científicos, conta cerca de 110 anos. Em 1888, Sanfords publicou um estudo sobre a legibilidade comparada de pequenas letras.

Só em 1928 é que Miles Tinker e Donald Paterson acrescentam um importante estudo sobre a rapidez de leitura em função da tipografia usada. [Tinker, M.A. e Paterson, D.G. Studies of Typografical Factors Influencing Speed of Reading. 1928] [Paterson, D.G. e Tinker, M.A.: How to make type readable. 1940] [Tinker, M.A. Legibility of print. 1963]

A legibilidade é pois uma grandeza empírica, traduzível em números. Existem entretanto vários testes para medir

– a velocidade de leitura,
– a compreensão (retenção de conteúdos),
– o movimento ocular
– e ainda outros parâmetros e critérios.

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Logicamente, a legibilidade varia consoante a inteligência e a cultura das pessoas que desempenham os testes; portanto é necessário fazer os testes de legibilidade com grupos de testandos adequados.

Nos vários projectos de investigação efectuados até hoje, foi definida e redefinida a “legibilidade” – em concordância com estandartes emergentes –; em consequência disso, observamos uma ampla discrepância sobre os factores que tornam um texto “legível”.

Parâmetros que afectam a legibilidade

Os esforços empregues para obter de um texto impresso a maior legibilidade possível têm que incidir sobre a micro-tipografia (desenho das letras e dos detalhes das letras) e sobre a macro-tipografia (composição de palavras, linhas, colunas e páginas, justificação, tamanhos, hierarquia de conteúdos, etc.).

Existem múltiplas variáveis que influenciam a legibilidade, pelo que resulta difícil determinar um conjunto de regras de rápida e segura aplicação. No entanto, não é difícil estabelecer e fixar algumas linhas mestras que nos ajudem a compor com alguma segurança texto legível. [André Gütler e Christian Mengelt, Fundamental research methods and form innovations in type design compared to technological developments in type production. 1985]

Existe um amplo consenso entre investigadores e publicistas sobre o facto que a legibilidade dos diferentes tipos está sempre fortemente influenciada pela maqueta eleita para a composição e para a paginação.

Parâmetros como o tamanho da página, a cor, a textura e o brilho do papel, a mancha gráfica, o número de colunas, os espaços, afectam a leitura do texto tão fortemente como as características micro-tipográficas dos tipos [Wrolstad, Merald E. Methods of research into legibility and intelligibility. 1970]

É tão fácil compor uma página utilizando um tipo com boa legibilidade (como, por exemplo, uma romana como a Garamond), como é fácil, usando o mesmo tipo, criar uma página que apresente sérias dificuldades para o leitor.

Parâmetros como a largura das colunas, o tamanho do tipo e os espaços entre as letras, palavras e linhas, têm enorme peso na legibilidade de um livro, de uma brochura, de uma revista ou de um prospecto.

Portanto, a disposição da página (a macro-tipografia) é um factor de primeira ordem. Será discutido mais adiante. Vejamos primeiro quais as variáveis micro-tipográficas que afectam a legibilidade—particularmente aquelas que estão sob o controle de um paginador usando ferramentas adequadas, como, por exemplo, InDesign da Adobe.

O que é que torna um texto legível?

A importância das formas familiares, de padrões já conhecidos ao leitor.

A definição mais concisa de «legibilidade de letras» veio do britânico Eric Gill, que afirmou: “Na prática, a legibilidade equivale ao que uma pessoa está acostumada”.

Embora este “dogma” possa ser interpretado com humor (Eric Gill era um excêntrico inglês com um forte sentido de humor), este lema tem sido confirmado por várias investigações.

Obviamente, nós (os leitores) fazemos parte de uma longa evolução histórica que foi formando os carácteres e lhes foi dando formas que hoje consideramos “típicas”.
São essas formas históricas as que reconhecemos com maior facilidade.
As formas com as quais estamos familiarizados, são-nos mais legíveis do que aquelas que não nos são comuns. [Lynne Watts e John Nisbet, Legibility in children’s books: a review of research. Windsor: NFER Publishing Company, Ltd., 1974].

Por isso, é conveniente não fugirmos muito ao já conhecido – quando tratamos de maximizar a legibilidade.

Características distintivas dos tipos: a “shape recognition” é essencial

Existem algumas características dos tipos que fazem que com alguns se consiga um texto bem mais legível que com outros. Estas características são, essencialmente:

– o corte
– as serifas
– o contraste (na grossura do traço)
– a cor (gray value)
– o peso (weight)
– o corpo (=o tamanho)
– a altura-x
– e … certos rasgos de “personalidade individual” para várias letras (g,h,y, …)

Todos estes parâmetros devem ser objectos de uma escolha consciente por parte do designer/paginador.

A legibilidade é melhor nos tipos com fortes características “pessoais”.

Um pequeno teste de comparação convence-nos rápidamente que os tipos serifados têm as mais fortes características “pessoais”. Vejamos: a fonte Garamond possui características que provocam um rápido e fácil reconhecimento das letras.

São particularidades resultantes do profissionalismo do gravador de punções Claude Garamond e de toda a evolução histórica que veio a seguir.

Ao fazer-se a Akzidenz-Grotesk (por volta de 1890, autor anónimo), a necessidade sentida em renovar o repertório tipográfico negou voluntariamente esse legado histórico, substituin­do-o por uma construção basicamente geométrica de caracteres com traço de grossura quase uniforme, sem contraste.

Escolha de uma fonte apropriada

Com ou sem serifa? Todos os factores que ajudem o olho humano a perceber uma palavra como um bloco óptico, melhoram a legibilidade. De maneira geral, as serifas facilitam a leitura, pois fazem o texto parecer contínuo aos olhos do leitor; as palavras aparecem melhor “aglutinadas”.

Com frequência se afirma que os caracteres com remate – serifados ou egípcios – são mais legíveis dos que os não-serifados.

Umas das razões que confere melhor legibilidade às serifas é o seu percurso histórico – fomos habituados a elas.
Outra razão, esta mais técnica e menos discutida, tem a ver com a nossa percepção.
As serifas ajudam a agrupar as letras de uma palavra. As serifas levam a que as letras mostrem um efeito de “coagulação óptica”.

Através de várias análises, ficamos a saber que um leitor experiente não lê um texto letra por letra. Ele lê, sim, palavra por palavra, e muitas vezes, até várias palavras de uma só vez. (Só pessoas com pouca alfabetização é que soletram, tacteando o texto oralmente, e sílaba por sílaba).

Todos os factores que ajudem o olho humano a perceber uma palavra como um bloco óptico, melhoram a legibilidade. De maneira geral, as serifas facilitam a leitura, pois fazem o texto parecer contínuo aos olhos do leitor; as palavras aparecem melhor “pegadas”.

Se, pelo contrário, o leitor começa a fixar as letras individualmente, uma por uma, já está a perder demasiado tempo com a leitura. (Repito: só leitores com pouca experiência ou pouca escolaridade é que soletram os textos durante a leitura; evidentemente, este processo atrasa fortemente a leitura.)

A premissa “as serifadas lêm-se melhor” está confirmada por muitos estudos; contudo, há vozes discordantes. [Ole Lund. Why serifs are (still) important. 1997]. Mas também é certo que: serifas a mais, produzem um efeito contraproducente.

Tinker observou com pertinência que os remates largos e grossos, tão típicos dos tipos egípcios, podem diminuir a legibilidade. Formas quadradas produzem ainda pior efeito.

Uma crítica que se vem repetindo desde há longa data às tipografias de estilo “clássico moderno” – as não-serifadas, como a Futura, a Helvetica, a Univers, a Folio, etc. – é que os seus caracteres mostram um desenho “despersonalizado”, demasiado uniforme, “sem sal e pimenta”.

Da Helvetica falou-se com razão como sendo a tipo “sem características”, sem personalidade e sem profil próprio. Já da Akzidenz Grotesk, “mãe” de todas as não-serifadas, sabemos que não tem autor. Esta grotesca, extremamente popular entre os adeptos da Bauhaus e da nova tipografia, teria sido um resultado colectivo – ou trabalho de autor tipográfico anónimo…

O “efeito pérola”.

Uma das contra-indicações mais importantes, a razão principal pela qual, de modo geral, não se devem usar letras sem patilhas em texto corrido, é o “efeito pérola”.

Este efeito é especialmente manifesto em tipos com formas pronunciadamente redondas, como a Futura ou a Gill Sans.

Ascendentes, descendentes e altura-x

Vários especialistas sugerem que a altura-x (x-height) é o factor mais importante a afectar a legibilidade dos caracteres, principalmente em tamanhos pequenos. Os tamanhos dos ascendentes e descendentes das letras são críticos para reconhecê-las e para fixar a imagem da palavra. É banal: com eles podemos distinguir um h de um n, um o de um d, etc.

Além do dito, uma pequena altura-x incrementa o espaço branco entre as linhas e enfatiza a imagem da linha de texto – desde que o paginador tenha tido o bom senso de usar uma entrelinha acima do valor default comum (120% do tamanho de letra).

Mas atenção! – uma altura-x demasiado grande atrasa a velocidade de leitura, devido à imagem débil que apresentam as palavras [Betty Binns. Better type. 1989].

As diferentes investigações levadas a cabo conduzem à conclusão que os tipos com uma altura-x grande (mas moderada) são em geral mais legíveis em corpos pequenos.

Parece que o incremento da altura-x aumenta a legibilidade – como se fosse um tipo de tamanho maior; assim sucede que tipos diferentes, como a Times e a Perpetua, podem chegar a ter similar legibilidade – se se igualarem as suas alturas- x. [H. Spencer, L. Reynolds, B. Coe. The effects of image degredation and background noise on the legibility of text and numerals in four different typefaces. London, 1977].

Uma análise semelhante obtem-se comparando duas romanas classicistas: a Bauer Bodoni com uma Walbaum modernizada, a da Fundição Berthold

Contraste na grossura de traços

Existem várias investigações empíricas sobre a influência do contraste na grossura de traços – alternância de traços finos e grossos – na legibilidade.

Um extremo contraste entre traços finos e grossos (como típicos duma Bodoni ou de uma Didot) deve ser evitado em textos corridos.

A grossura ideal do traço das letras eleitas para um corpo de texto deve de ser, mais ou menos, 18% da largura ou altura total das mesmas [Rolf F. Rehe, Typography: how to make it most legible.]

Tinker considera que um incremento de contraste não melhora automaticamente a legibilidade; pelo contrário, alguns traços mais finos podem diminui-la.

Entre os peritos de tipografia, as opiniões variam: Kurt Weidemann escreve que um contraste forte dá como resultado uma aparência tipográfica incoerente e reduz o reconhecimento das características distintivas das letras [Weidemann, Kurt. Biblica – designing a new typeface for the Bible. Baseline, 6 (1985), pp. 7-11].

Assim, a sua fonte ITC Weidemann apresenta um contraste fraco – talvez um pouco fraco demais. Kurt Weidemann, no mencionado ensaio resume eloquentemente a experiência de desenhar tipos: Quando a técnica de aumentar a altura-x e a condensação dos caracteres ultrapassa um limite de segurança, a facilidade de leitura e o reconhecimento dos caracteres diminui, em vez de aumentar.

A redução de contraste foi uma das características principais de bastantes tipos utilizados em periódicos em princípios do século XX. Os traços finos (como os que podemos encontrar nos tamanhos grandes da Times) não se reproduziam bem nas máquinas da época [Lawson, Alexander. Anatomy of a typeface]; o engrossamento dos mesmos proporcionou à letra uma impressão mais forte e duradoira – que era especialmente importante para manter a legibilidade nos corpos pequenos.

Jan Tschichold e outros são da opinião que descuidar o contraste pode prejudicar a legibilidade [Jan Tschichold, Of what value is tradition in type design? Em: Typographic Opportunities in the Computer Age, editada por John Dreyfus e René Murat. Praga: Typografia, 1970, pp. 52-55].

A cor e a grossura do traço

Vários estudos efectuados mostraram não existir uma diferença clara quando comparamos a legibilidade entre caracteres de diferentes grossuras; embora os leitores prefiram os caracteres com traço mais grosso [Herbert Spencer, The visible word. Lund Humpheries, Londres, 1969].

Muitos mestres concordam que o melhor contraste de cores não é o alcançado com tinta de impressão 100% preta em papel 100% branco, mas sim utilizando papel com alguma tonalidade natural (ligeiramente pardo ou chamois, por exemplo.)

A cor de impressão de um texto corrido pode não ser 100% preta, optando-se por um cinzento bastante escuro (80% K).

autor: Paulo Heitlinger
fonte: http://www.tipografos.net/ | trechos do livro: Tipografia – Origens, formas e uso das letras

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