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Carreira: Publicidade

Em meio a miniaturas e pistolas d’água, apenas duas pessoas trabalhavam à tarde no departamento de criação da agência de comunicação online TV1.com. Uma delas era a redatora publicitária Maria Ligia Monteiro de Araujo, de 30 anos. Ela logo explicou a ausência dos colegas: “Eles viraram a noite trabalhando”.

Horários pouco ortodoxos para cumprir os prazos do cliente e ambientes de trabalho descontraídos são duas das principais características da publicidade, ramo responsável por desenhar as estratégias de comunicação de marcas, produtos e empresas com seus públicos. Nos últimos anos, porém, a carreira tem tido que se adaptar às novas gerações de consumidores, cada vez mais exigentes e determinadas a cumprir um papel ativo em suas decisões de compra.

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Para isso, tanto o mercado quanto a academia têm se apressado em renovar suas linguagens e aprofundar os novos conhecimentos da publicidade relacionados às mídias digitais, segundo Eric Messa, professor do curso de publicidade e propaganda da Faculdade de Comunicação e Marketing da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap).

“Quem está trabalhando com isso hoje é quem teve que aprender na marra, mas esse conhecimento aos poucos está se sedimentando e se tornando um conteúdo que você consegue transmitir para alguém. Essas pessoas já têm um repertório, e estão se tornando professoras”, afirmou. O cenário atual da carreira, segundo ele, é parecido ao da década de 1960. Quando surgiu o curso superior de publicidade, as agências já existiam, e eram lideradas por profissionais formados em engenharia, administração e outras carreiras, que precisaram aprender “na prática”.

As redes sociais como Twitter e Facebook, impulsionadas pela adesão de cada vez mais consumidores, não apenas criaram novos ramos de atuação para profissionais de publicidade, como também transformaram o modo como a área lida com os veículos tradicionais. Um comercial de televisão, segundo Messa, não é mais feito hoje da mesma forma que há 20 anos, por exemplo.

Ele destacou ainda a crescente demanda por profissionais de outras áreas, principalmente do jornalismo, para atuar no ramo de “branded content”, como é conhecida a produção de conteúdo de entretenimento pelas marcas, e não apenas propaganda.

A área tem ganhado cada vez mais espaço por causa de necessidade de abordar consumidores que já não assistem aos comerciais de maneira passiva. Um exemplo de “branded content” citado por Messa é o filme “Náufrago”, protagonizado pelo ator Tom Hanks, em que uma empresa de correios e outra de materiais esportivos não apenas divulgaram suas marcas, mas se inseriram na história, atuando como personagens coadjuvantes.

Curiosidade

nullApesar das novidades, algumas características do perfil exigido de um publicitário permanecem inalteradas. Para Maria Ligia, a curiosidade é um requisito obrigatório em qualquer profissional da área. “Tem que assistir a muitos filmes, ler muitas revistas, muitos blogs, ver jornal, saber um pouco do que tem sido falado na novela… Não precisa gostar, só precisa estar por dentro, precisa saber sim de notícias, ter noção de economia, ligar o radarzinho e saber um pouquinho sobre tudo.”

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Esse é o truque, segundo ela, para que os profissionais de criação sejam bem sucedidos. “Isso é o que faz com que você nunca pare de ter ideias. Trabalhar com criatividade exige que você busque muitas fontes.”

Além disso, segundo Messa, o vestibulando interessado em se formar publicitário deve ser “necessariamente alguém que goste da área de humanidades, desses assuntos que, dentro da faculdade, ele veria em aulas de antropologia, sociologia, filosofia, psicologia”. Para o professor da Faap, o publicitário tem que estar preparado para “aplicar na prática fundamentos teóricos que vêm dessas áreas”.

Embora atraente a pessoas interessadas em cultura e eventos, os profissionais alertam que nem tudo é glamour na carreira. Os salários, principalmente nas agências segmentadas, que oferecem um serviço específico (caso das agências de mídias sociais), começam baixos (veja tabela ao lado com a faixa salarial média), boa parte das empresas prefere contratar pessoas jurídicas em vez do regime CLT e nem todo cliente permite que a criatividade seja tão livre quanto o publicitário gostaria que fosse.

Vanessa de Oliveira Lima, consultora independente de recursos humanos no ramo da comunicação, explicou que, ao analisar uma vaga de emprego, o profissional deve olhar para o pacote de benefícios da empresa, e não só para o salário. “Tem que ver se há remuneração variável, como o PLR [participação em lucros e resultados], se a empresa oferece plano de carreira, possibilidades de desenvolvimento, parcerias com empresas e a possibilidade de fazer carreira internacional”, disse.

Para a consultora, atualmente é melhor, financeiramente, que o recém-formado participe de programas de trainees, em vez de ser efetivado depois do estágio. Se for esse o caso, porém, ela afirmou que, hoje em dia, profissionais atuantes no departamento de comunicação das marcas anunciantes, principalmente nos ramos de telecomunicações, finanças e tecnologia, ganham mais que os publicitários de agências que prestam serviço a diversos clientes.

‘Offline’ e ‘online’

A projeção que Maria Ligia e Eric Messa fazem para a profissão nos próximos anos é a exigência de profissionais cada vez mais capazes de lidar tanto com os meios digitais quanto com os analógicos.

“Acho que virá uma nova geração com conhecimento melhor formado nesse assunto porque ela teve embasamento acadêmico”, explicou Messa. Os próximos profissionais da publicidade já deverão, segundo Ligia, compreender e aceitar que não há divisão entre “offline” e “online”. Essas expressões, para ela, já caíram em desuso.

“A partir do momento em que a gente faz um evento e ele é compartilhado na internet através de fotos, e as pessoas podem opinar tanto lá, presencialmente, quanto digitalmente, e isso no dia seguinte vira pauta de um jornal que é impresso, essa divisão não existe”, afirmou Ligia. “Se você está escolhendo essa profissão hoje, é importante você estar preparado para atuar tanto no digital quanto fora dele.”

autora: Ana Carolina Moreno
fonte: G1

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